Ingrid Guimarães está numa encruzilhada profissional que ultrapassa risos e provoca reflexão: ela decidiu demitir toda a equipe envolvida em um filme depois de passar por um episódio de machismo contra ela nos bastidores. A atriz, que construiu forte carreira na comédia, abriu o jogo sobre o que considera um problema ainda silenciado no mundo audiovisual.

Em conversa franca, Ingrid afirmou que viveu uma situação de misoginia recentemente num set de filmagem — mesmo com mulheres ocupando cargos de comando. A decisão de dispensar todos os envolvidos, segundo ela, não foi impulso, mas resposta calculada: “se você deixa passar, se você ficar com medo, a pessoa repete”. A frase revela não só revolta, mas uma postura que desafia uma normalização antiga nos bastidores.

A comédia, gênero que a atriz personifica, também entrou no debate. Ingrid disse que sofre com o preconceito de muitos dentro da própria produção, por vezes motivado apenas porque o trabalho é “engraçado”. Para ela, há quem aceite projetos desse tipo só para constar — e essa banalização do gênero, que deveria ser celebrado ou ao menos respeitado, a incomoda profundamente.

Ao romper o silêncio sobre o caso, Ingrid não só expõe o machismo explícito, mas também sugere que o preconceito se manifesta de formas sutis: de olhares, postura, comentários velados. E que, apesar de haver mulheres em posições de liderança, o machismo permeia estruturas difíceis de desmantelar.

A atitude de demitir toda a equipe põe em pauta a necessidade de responsabilização. A moral não está apenas em denunciar, mas em agir. Pode-se argumentar que sua postura radical — dispensar quem participou de uma estrutura permissiva — é raríssima entre profissionais do audiovisual. Dá-se voz ao poder individual, mas também abre debate sobre coletivos, produções e práticas institucionais.

Esse caso não é isolado. Ele se soma a uma série de relatos de mulheres que trabalham com criação, direção, produção ou atuação, que falam de constrangimentos, micro-agressões, desrespeito — sempre variando em grau, mas iguais em essência: machismo. O silêncio, muitas vezes, funciona como pacto tácito de continuidade desse ciclo. O contraponto, como Ingrid demonstra, é partir para uma postura de ruptura, que doe profissionalmente, mas alivia moralmente.

Para além da polêmica, sua atitude pode inspirar mudanças práticas. Produções mais atentas, equipes treinadas, revisão de práticas culturais e de gestão, espaços de denúncia interna — tudo isso é parte do que pode se mover quando casos como esse vêm à tona. Se algo hoje pode ser questionado, refeito ou excluído, é esse tipo de normalização.

Ingrid Guimarães mostra que para ela a comédia não exclui dignidade. Revela que para haver respeito, não basta talento ou sucesso — é indispensável integridade. E que, às vezes, a decisão mais difícil é desligar-se de quem não respeita.

By