Dead for more than a decade, Michael Jackson não apenas mantém como também amplia sua liderança nas listas de celebridades falecidas que continuam a render cifras expressivas – e implica numa reflexão profunda sobre legado, consumo e capitalismo cultural.

Conforme estimativas recentes, a fortuna gerada pelo espólio do artista ultrapassa a faixa de US$ 100 milhões por ano, colocando Jackson consistentemente no topo da lista mundial de “dead celebs” que mais faturam. Esse fenômeno torna evidentes dois fatos: o primeiro, que uma obra artística de escala global pode manter renda estável muito além da vida do autor; o segundo, que a gestão pós‑morte — catálogo, direitos de imagem, licenciamentos — tornou‑se negócio estratégico.

A receita da Jackson Estate não vem simplesmente do streaming de “Thriller” ou “Billie Jean”: está concentrada em múltiplas frentes. As vendas e licenças da vasta discografia, os espetáculos que retratam sua obra, os contratos comerciais com marcas e até a cessão de direitos para grandes produções audiovisuais compõem um ecossistema de monetização que opera 24/7. Enquanto muitas celebridades falecidas veem seus ganhos diminuírem gradualmente, Jackson segue desafiando a lógica da obsolescência artística.

Esse desempenho impacta de duas maneiras complementares. Por um lado, evidencia o valor da música e da imagem como ativos duradouros — a obra permanece relevante para novas gerações, plataformas e mercados internacionais. Por outro, levanta questões éticas: quão distante do controle original do artista está a exploração de seu legado? Quanto desse processo preserva a intenção criativa ou se converte em franquia comercial?

Além disso, o impacto ultrapassa o âmago musical. O caso Jackson ilustra como a cultura pop tornou‑se uma máquina de valor persistente. Ícones que transcendem sua época viram suas identidades transformadas em marcas perenes, negociadas como propriedades intelectuais. A fama, a tragédia e o mito se combinam num circuito que atrai investidores, plataformas de conteúdo e fãs que seguem consumindo a figura além do seu tempo de vida.

Não há garantia de que qualquer celebridade falecida alcance esse nível, e o fenômeno Jackson reúne condições muito particulares: imbatível performance de mercado quando vivo, catálogo vasto e global, imagem icônica e uma gestão pos­mortem eficiente. Seria difícil replicar esse modelo mesmo que a fórmula se tornasse explícita.

No Brasil, isso também provoca um efeito‑eco: artistas nacionais e suas famílias passaram a encarar direitos autorais, heranças culturais e legado imaterial com novo olhar. A obra de Jackson virou case de estudo para entender como transformar patrimônio artístico em fonte de renda sustentável — e como evitar que esse processo se torne mero produto de especulação.

Em última instância, Michael Jackson permanece não apenas como o “Rei do Pop” na memória popular, mas como um paradigma de patrimônio cultural que resiste ao tempo. E, em tempos de streaming, de economia da atenção e de conteúdos on‑demand, seu exemplo demonstra que a morte física não é limite — é, na verdade, um ponto de partida para uma nova forma de presença no mundo.

By