A imagem pública de Netinho de Paula como defensor das causas sociais enfrenta seu maior desafio. Documentos revelam que uma organização não-governamental vinculada ao artista e ex-político acumula dívidas trabalhistas superiores a R$ 50 mil com um ex-funcionário há mais de uma década – um contraste gritante com o discurso de justiça social que o cantor propaga em seus projetos públicos.
A dívida, reconhecida judicialmente, remonta a um período em que a ONG, criada para promover ações culturais em comunidades carentes, mantinha atividades regulares. O ex-empregado, cuja identidade preservamos por questões éticas, desempenhava funções administrativas essenciais para o funcionamento da entidade. Após a demissão, iniciou uma via crucis jurídica que já dura mais de dez anos sem solução.
“É irônico que uma instituição que pregava empoderamento comunitário tenha deixado de cumprir suas obrigações básicas com quem ajudava a construir esse trabalho”, comenta um especialista em direito trabalhista que acompanha o caso. Os documentos mostram que, mesmo após condenação judicial, a organização não quitou os valores devidos, que hoje equivalem a quase cinco anos de salário mínimo.
O caso expõe uma contradição perturbadora no terceiro setor brasileiro:
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Discurso vs. Prática: Enquanto muitas ONGs defendem bandeiras sociais progressistas, algumas falham em aplicar esses princípios em sua própria gestão
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Responsabilidade fiscal: A sustentabilidade financeira como desafio crônico das organizações sociais
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Prestação de contas: A falta de transparência no tratamento de passivos trabalhistas
Netinho de Paula, que já ocupou cargos políticos eletivos e mantém relevância no cenário artístico, não se manifestou publicamente sobre o caso. Seus assessores alegam que o cantor não tem envolvimento operacional com a ONG há anos, embora seu nome permaneça intimamente associado à instituição em materiais de divulgação.
O ex-funcionário, em depoimento reservado, relatou o impacto devastador da dívida não quitada: “Acreditei no projeto, abri mão de oportunidades melhores para contribuir com uma causa social. Hoje me sinto duplamente traído – pelo não pagamento e pelo silêncio”.
O caso reacende o debate sobre a necessidade de maior regulamentação e fiscalização das organizações do terceiro setor. “A causa nobre não pode servir de álibi para irregularidades trabalhistas”, adverte uma auditora fiscal com experiência no setor.
Enquanto isso, a dívida segue como um fantasma que assombra tanto o credor, que viu seus direitos básicos negados, quanto o devedor, cuja credibilidade social agora é questionada. Num país com profundas desigualdades, o episódio serve como alerta: justiça social começa pelo cumprimento das obrigações mais elementares para com aqueles que ajudam a construir os projetos.
O silêncio de Netinho de Paula ecoa mais alto que qualquer discurso. E nesse vácuo, uma pergunta permanece: como exigir transformação social de quem não consegue sequer honrar seus compromissos mais básicos? A resposta, assim como o pagamento devido, continua pendente.